Inspirar, estimular a criatividade, criar vínculos com o território e com a comunidade, proporcionar encontros e trocas. Estas são algumas funções que espaços e equipamentos de arte e cultura podem desempenhar no cotidiano das cidades. Estabelecer locais estratégicos para promoção de trocas e compartilhamento é um dos princípios do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) em Campinas.
Das discussões sobre as possibilidades de ocupação da Fazenda Argentina, área do HIDS que pertence à Unicamp, emergiram várias sugestões de equipamentos culturais, por exemplo uma Casa dos Saberes Ancestrais, projeto da Diretoria de Cultura da Unicamp (DCult), um museu de história natural a partir de acervo do Instituto de Geociências, uma nova sede para o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp e um Espaço de Arte Contemporânea, sugerido pela Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen).
Uma quadra de cultura no HIDS – Foi a partir destas sugestões que Ana Letícia Takiguti, elaborou o projeto de uma Quadra Cultural no HIDS Unicamp em seu Trabalho Final de Graduação em Arquitetura na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (FECFAU). O trabalho foi orientado pela Prof.(a) Dr.(a) Gabriela Celani, diretora geral do Centro de Estudos sobre Urbanização para o Conhecimento e a Inovação (CEUCI) e que compõe a equipe que elabora o plano de ocupação para o HIDS Unicamp.
Localizada na área central da Fazenda Argentina, próxima as áreas de inovação e áreas verdes, a Quadra Cultural foi concebida para ser um centro com diversos equipamentos culturais de grande abrangência. “A Unicamp possui projetos que poderiam dialogar com esta proposta e que, por múltiplos motivos, ainda não foram concretizados ou ainda não possuem local apropriado para suas atividades, como é o caso do Museu de Artes Visuais (MAV), ou de um local para abrigar o acervo de obras africanas e pré-colombiana com perspectiva de doação pelo professor Rogério Cerqueira Leite”, lembrou Ana.
Na concepção do projeto, a autora se baseou em premissas como permeabilidade visual e de circulação, contato com a natureza, integração com a comunidade e humanização, parte delas inspiradas nos princípios norteadores da ocupação do HIDS Unicamp. Entre os aspectos técnicos incorporados no projeto da Quadra estão manter áreas internas mais protegidas e distantes das passagens de carros, criação de espaços de uso público que dialogam com os edifícios, criação de áreas verdes no interior da Quadra para valorizar a experiência e incentivar a permanência do pedestre.
Além do projeto de Quadra Cultural, a aluna da FECFAU também elaborou um projeto arquitetônico para o Espaço de Arte Contemporânea (EAC). A proposição da Cocen de criar o EAC teve como principal motivação a ausência de um espaço adequado para as atividades de ensino, pesquisa e de extensão de três grupos de pesquisa da Universidade: o Centro de Integração Documentação e Difusão Cultural (CIDDIC), o Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) e o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais (LUME). Estes grupos são responsáveis por salvaguardar documentos e itens importantes das áreas da música, som, dança e teatro, com ênfase em obras nacionais contemporâneas, além de realizar pesquisas e produções artísticas para exposições e compartilhamentos com a sociedade por meio de apresentações oficinas, cursos, palestras e outros tipos de interações com a comunidade. A Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU), Coral Zíper na Boca, o Coro Contemporâneo e a Escola Livre de Música são algumas iniciativas ligadas a esses grupos de pesquisa. Atualmente, os espaços que estes grupos ocupam não comportam adequadamente seus projetos ou a recepção de público. Além disso, a localização de algumas sedes não favorece sua visibilidade ou relação com a comunidade interna ou externa à universidade.
As discussões sobre a criação do EAC começaram nos anos 2010. Mais recentemente, no entanto, a ideia ganhou força novamente com a criação de um Grupo de Trabalho (GT) cujas atividades aconteceram entre 2021 e 2022, resultando na proposição formal do EAC. Nesta proposta ele deve ser um ambiente multifuncional e multiusuário com infraestrutura adequada para uma inter-relação eficaz de suas atividades e, principalmente, uma efetiva apresentação pública de seus trabalhos. Nas oficinas Unicamp 2050, para discutir projetos que podem o HIDS Unicamp, a Cocen sugeriu que a Fazenda Argentina poderia abrigar o EAC. No projeto arquitetônico elaborado pela aluna da FECFAU, o objetivo foi criar um ambiente que reúna os três grupos e promova interlocução e trocas entre eles e com a comunidade interna e externa à universidade, no HIDS.
O prédio com quatro pavimentos, mais subsolo, abrigaria um teatro multifuncional, projetado com elementos que permitem alterar as configurações do ambiente para acomodar diferentes apresentações e usos. Os materiais e os elementos flexíveis adotados permitem modificar as características acústicas do ambiente. Estão previstos ainda salas específicas para o regente; para arquivo de partituras, para aula prática para madeiras, metais, cordas e percussão, espaço para ensaios, salas adaptadas para as características dos acervos, biblioteca, camarins e laboratórios. “A ideia que me guiou na elaboração do projeto foi criar espaços coerentes para a realização das pesquisas desenvolvidas pelos grupos. A edificação adota estrutura de madeira visando proporcionar um projeto arquitetônico mais sustentável”, contou Ana Letícia.
Cidade de 15minutos – A proposta da aluna Ana Letícia dialoga com o master plan do HIDS elaborado pelo instituto coreano KRIHS cuja proposta é inspirada no conceito de cidade compacta, em que serviços essenciais – incluindo os equipamentos de cultura e lazer – estão a uma distância de 15 minutos, possibilitando que as pessoas possam ter acesso a eles caminhando ou pedalando, por meio de uma boa infraestrutura de mobilidade ativa, em um modelo de urbanização em harmonia com a natureza.
Para viabilizar o acesso e a locomoção das pessoas no território do HIDS e consequentemente a esses equipamentos culturais, a proposta do KRIHS sugere a criação de um sistema de transporte público integrado à que já existe no município e a extensão das linhas de BRT (ou ônibus de trânsito rápido) na Rodovia Governador Dr. Adhemar Pereira de Barros (Campinas-Mogi) e na Avenida Guilherme Campos. O master plan também menciona o transporte por trens leves na Avenida Professor Atílio Martini, como alternativa de mobilidade para esta área. Além disso, define uma rede de linhas de ônibus interna com pontos de acesso distribuídos pelo HIDS.
Ampliar a diversidade e o alcance das trocas na área do HIDS por meio de atividades culturais, artísticas e de lazer é um dos meios de incentivar as conexões e a cooperação entre as instituições de inovação e de educação já existentes. Para além das relações internas, o uso e o compartilhamento destes espaços podem promover maior integração entre o HIDS, a cidade de Campinas e outros municípios da região.
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Por Patricia Mariuzzo