Com duração de um ano e em regime de dedicação integral, teve início em setembro a Especialização em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil (AU/EC 2020-21) da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) na qual os estudantes desenvolverão um projeto urbano para o HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). Na disciplina Projetos em sistemas de computação, da graduação do Instituto de Computação, os alunos vão desenvolver um sistema computacional para viabilizar o funcionamento de uma plataforma de avaliação de sustentabilidade para o HIDS. Já na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) foi criado um grupo de trabalho (GT) dedicado a pensar projetos e soluções dentro da abordagem de laboratórios vivos para o Hub. Essas são algumas das iniciativas em curso na Unicamp que mostram o engajamento da comunidade com o planejamento do projeto. “O HIDS é um projeto complexo que envolve importantes instituições além da Unicamp, mas sempre foi nosso objetivo que a Universidade participasse ativamente da sua construção e essas iniciativas são uma forma importante de engajamento”, disse Marco Aurélio Pinheiro Lima, coordenador do HIDS.
Em março desse ano foi assinado um convênio de cooperação técnica entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Prefeitura de Campinas e a Unicamp. Nos termos desse acordo o Banco vai investir o valor total de US$ 1 milhão, a fundo perdido, para a elaboração de um Master Plan inovador e arrojado, integrando iniciativas públicas e privadas para a região do HIDS. As iniciativas em curso na Unicamp vão gerar subsídios importantes para o desenvolvimento desse master plan.
Projeto físico-espacial – Os 15 alunos da especialização – com formações na Arquitetura e Urbanismo, Ecologia, Computação, Engenharia Civil e Geografia – devem colocar em prática pesquisas científicas ligadas ao ambiente urbano dentro de uma perspectiva socioambiental. A especialização foi idealizada por um grupo de professores da FEC. Em um modelo inédito na Unicamp, o quadro de professores deve ter, além dos docentes da Unicamp, alunos de doutorado da FEC, professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas e profissionais da Prefeitura Municipal de Campinas. “Tivemos 75 candidatos, de 14 estados diferentes, de oito cursos diferentes, e temos certeza que os 15 selecionados contribuirão muito para o desenvolvimento de propostas para o HIDS”, contou a professora da FEC, Gabriela Celani. O HIDS é um projeto ousado, com muitos atores envolvidos, o que nos coloca um desafio imenso. Esse curso vai ajudar a construir algo de concreto para o HIDS e deixar um legado para que o projeto tenha continuidade”, afirmou o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel.
O Plano Diretor da Unicamp e o Plano Diretor da cidade de Campinas servirão como subsídio do planejamento do HIDS. “Esperamos que esse curso seja um ambiente de trocas e de propostas que resultem em um ambiente urbano mais inovador, sustentável e inclusivo, palavras que resumem os objetivos do Plano Diretor da cidade de Campinas”, disse Maria Conceição Pires, arquiteta da Prefeitura de Campinas, que será uma das professoras da especialização.
Como avaliar a sustentabilidade – A proposta do HIDS é construir uma estrutura que combina e articula ações, através de parcerias e cooperações entre instituições para gerar contribuições concretas para o desenvolvimento sustentável. Mas como saber se os projetos, atividades e iniciativas planejadas e as que serão consolidadas no HIDS estão mesmo de acordo com o que preconizam os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)?
Pensando nisso foi criado um grupo de trabalho inteiramente dedicado ao desenvolvimento de uma metodologia de avaliação de sustentabilidade para o HIDS. Interdisciplinar, a equipe reúne profissionais de diversas áreas da Unicamp e das instituições que compõem o Conselho Consultivo do HIDS, entre elas a Embrapa, Sanasa, CPQD, Instituto Eldorado, Facamp, PUC-Campinas, TRB Pharma, CPFL e Cargill. “A sustentabilidade é um pilar do HIDS. Daí a necessidade de estabelecer uma estratégia para avaliar a sustentabilidade de todas as ações do HIDS de modo permanente”, explica Marcelo Cunha, professor do Instituto de Economia da Unicamp e coordenador desse grupo de trabalho. “Nossa ideia é articular metodologias que já existem, podendo aplicá-las em projetos de naturezas diferentes”, afirmou Cunha. Entre essas metodologias está, por exemplo, o sistema de ranqueamento UI GreenMetric, que estabelece indicadores de sustentabilidade específicos para avaliar e balizar as futuras decisões em universidades, da qual a Unicamp e a PUC já participam. Outro exemplo é a análise de ciclo de vida voltada para edificações que poderia orientar todas as novas construções do HIDS e ainda metodologias de avaliação corporativas, que têm como objetivo avaliar e gerar índices de sustentabilidade das empresas, mostrando o quanto elas estão engajadas em um modelo de desenvolvimento sustentável.
O resultado esperado desse trabalho deve ser uma plataforma de acesso aberto a partir da qual serão gerados índices de sustentabilidade nos aspectos social, econômico e ambiental. Para isso o grupo de trabalho vai contar com o apoio do Instituto de Computação da Unicamp. Na disciplina “Projetos em sistemas de computação”, do IC, os alunos vão desenvolver uma plataforma computacional para sistematizar e automatizar a coleta de dados e geração de indicadores de avaliação de sustentabilidade. “A sustentabilidade é um assunto que não aparece muito no currículo da computação. Essa disciplina é uma oportunidade para os alunos refletirem sobre como as tecnologias de informação podem contribuir para o desenvolvimento sustentável”, afirmou a professora Juliana Freitag Borin, responsável pela disciplina no IC.
Ao longo da disciplina, os alunos vão conhecer diversas metodologias de avaliação de sustentabilidade. Uma parceria com a CI&T, empresa-filha da Unicamp que desenvolve soluções para transformação digital e que atende clientes como Coca Cola, Itaú, Motorola, Vivo e Johnson & Johnson, vai trazer especialistas da empresa para ajudar os alunos a conhecer as etapas de desenvolvimento de um produto. “Eu acredito que essa experiência pode acrescentar muito à formação desses alunos. Por conta das exigências do mercado, as empresas estão cada vez mais comprometidas em gerar bons indicadores de sustentabilidade, então um profissional da computação que já tenha esse conhecimento terá um diferencial no mercado de trabalho”, pontuou Juliana.
Comitê interno para o HIDS – Buscando ampliar a participação da comunidade da Unicamp no planejamento do HIDS, foi criado um Comitê Interno para o HIDS (portaria interna 04/2020). Seu objetivo é prospectar e propor conteúdo de interesse da Unicamp no HIDS). Compõe o Comitê os diretores das Faculdades – FCA, FCF, FCM, FE, FEA, FEAGRI, FEC, FEEC, FEF, FEM, FENF, FEQ, FOP e FT –, dos Institutos de Ensino e Pesquisa -IA, IB, IC, IE, IEL, IFCH, IFGW, IG, IMECC e IG – e dos Colégios Técnicos (COTIL e COTUCA), com seus diretores associados, atuando como suplentes. “Esse comitê será fundamental no sentido de garantir que conteúdos e temas de interesse da Unicamp estejam presentes na construção de laboratórios vivos nesse território. Além disso, trata-se de um instrumento importante para garantir a continuidade do projeto, especialmente nos momentos de transição política da Universidade”, disse do diretor da DEPI, Marco Aurelio Pinheiro Lima. Na prospecção de temas com os diretores de unidades da Unicamp vários temas surgiram: patrimônio ambiental e sociocultural, biodiversidade urbana e monitoramento microclimático; planejamento urbano-sustentável, mobilidade urbana, urbanismo tático, trilhas e ciclovias, direitos humanos, bem-viver, educação 4.0, energia, água, ciclo do alimento, lixo zero, economia circular, medidas e ciência de dados.
Laboratórios vivos podem ser entendidos como espaços para a constituição de comunidades de aprendizado que incluem acadêmicos de diferentes disciplinas, a iniciativa privada, o poder público e usuários daquele espaço que se envolvem conjuntamente para produzir conhecimento aplicado localmente para permitir a transição para tecnologias e práticas mais sustentáveis. O HIDS está sendo pensado como um distrito modelo de desenvolvimento urbano sustentável e inteligente na forma de um laboratório vivo. “Já iniciamos a construção de projetos dentro dessa abordagem junto aos stakeholders do HIDS (Conselho Consultivo Fundador), mas é fundamental definir quais deles atendem as demandas da Unicamp”, afirmou Lima.
Sobre o projeto – O HIDS recupera parte das premissas vigentes na criação do polo de ciência e tecnologia em Campinas, mas vai além do objetivo de alavancar a vocação para ciência e tecnologia da região. Seu propósito é criar um distrito modelo de desenvolvimento urbano sustentável e inteligente na forma de um laboratório vivo. Sua missão é contribuir para o processo do desenvolvimento sustentável, agregando esforços nacionais e internacionais para produzir conhecimento, tecnologias inovadoras e educação das futuras gerações, mitigando e superando as fragilidades sociais, econômicas e ambientais da sociedade contemporânea. A área de planejamento do Hub envolve os campi da Unicamp (incluindo a Fazenda Argentina, com 1,4 milhão de m2, contígua ao campus da Universidade, no Distrito de Barão Geraldo), da PUC-Campinas e da Facamp, e ainda todo o território do Ciatec II – Polo de Alta Tecnologia com 8,8 milhões de metros quadrados, totalizando 11,3 milhões de m2.
Conselho Consultivo Fundador – A criação do HIDS requer um planejamento baseado em uma abordagem participativa. Buscando atender a essa premissa, foi criado o Conselho Consultivo Fundador do HIDS, uma instância consultiva à qual todas as decisões sobre o HIDS serão submetidas para discussão e conhecimento, com objetivo de contribuir na definição das atividades que poderão integrar o HIDS e nortear seu planejamento e a construção de sua governança.
O Conselho agrega 14 instituições: a Prefeitura Municipal de Campinas, o Governo do Estado de São Paulo, Unicamp, PUC-Campinas, Facamp, CNPEM, Embrapa, CPQD, TRB Pharma, Cargill, Cariba Empreendimentos e Participações e o Instituto ELDORADO, todas presentes na área de planejamento e ainda a CPFL e a Sanasa.
Por Patricia Mariuzzo