Bioeconomia é o conjunto de atividades econômicas baseadas no uso sustentável e inovador de recursos biológicos renováveis e de resíduos de processos extrativos ou de transformação para a produção, por exemplo, dos biocombustíveis, área em que o Brasil é pioneiro, considerando que desde a década de 1970, o país vem sendo protagonista em pesquisa e desenvolvimento tecnológico voltado à produção de etanol de cana-de-açúcar. Isso proporciona ao país vantagens comparativas capazes de proporcionar excelentes oportunidades com o desenvolvimento da bioeconomia desse biocombustível. Além de ser uma fonte de energia renovável, o etanol de cana-de-açúcar é considerado um combustível limpo, com emissão de CO2 inferior à da gasolina, o que contribui para mitigar o efeito estufa na atmosfera.
É a partir desses diferenciais competitivos que o pesquisador e professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, vê oportunidades para o HIDS (Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável). “Eu penso que HIDS pode ser uma unidade de captura de carbono pela via da inteligência, ou seja, por meio do desenvolvimento de processos e tecnologias que resultem na redução das emissões de CO2”, disse ele. E isso pode ser concretizado por meio de pesquisas na área de etanol 2G. No Laboratório de Genômica e Bioenergia (LGE), um dos melhores do país na área de genômica, Gonçalo e sua equipe já trabalham em pesquisas tanto para o desenvolvimento de variedades mais produtivas de cana-de-açúcar, quanto para simplificar e baratear o processo de produção de álcool nas usinas. “Vivemos um momento de incentivos para a produção de biocombustíveis e, no caso do etanol, nós já somos muito competitivos, por isso vale a pena traçar um plano de longo prazo, com envolvimento de todo ecossistema, a universidade, as empresas e o poder público. O HIDS pode ser um lugar para começar isso porque ele está sendo criado para ser um ambiente de integração, com diversos atores da sociedade, para o desenvolvimento de novas tecnologias capazes de ajudar a mitigar os efeitos da mudança climática”, afirmou Pereira.
De fato, buscando solucionar problemas ambientais e atingir as metas de redução de emissão de gases do efeito estufa, governos de vários países têm elaborado políticas e direcionado incentivos ao uso de fontes de insumos renováveis. No Brasil, em 2019, foi lançada a Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio) com objetivo de reduzir as emissões de CO2 no Brasil, aumentar a competitividade no setor e ajudar o país a atingir as metas do Acordo de Paris.
O Renovabio estabelece metas anuais de intensidade de carbono, seja pela ampliação da participação de biocombustíveis na matriz energética, ou pela compensação das emissões por meio de um instrumento financeiro, o CBIO (Crédito de Descarbonização por Biocombustível). Baseado em quantas toneladas de CO2 é retirada da atmosfera, a partir da sua produção de biocombustível, o produtor vende os títulos (cada título equivale à emissão de uma tonelada de carbono na atmosfera). Para atingir as metas de descarbonização, as distribuidoras podem aumentar as vendas do etanol ou comprar os CBIOs para compensar a emissão gerada por biocombustíveis fósseis. Os títulos já foram registrados na bolsa de valores de São Paulo, a B3, e estão sendo negociados desde abril. “Eu acredito que essa política dará grande incentivo para aumentar os investimentos na produção de biocombustíveis e, nós, podemos dar uma importante contribuição, suscitando inclusive novos modelos de parcerias com as empresas do setor de energia”, pontuou o biólogo.
Na opinião dele, o investimento em pesquisas e projetos na área de biocombustíveis no HIDS pode viabilizar a atração de empresas, start ups e fomentar projetos em parceria com outras instituições de pesquisa. Recentemente, pesquisadores do Pesquisadores do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) patentearam uma tecnologia para a produção de coquetéis enzimáticos de alta eficiência que devem viabilizar um aproveitamento mais eficiente das matérias-primas utilizadas para produção do etanol de segunda geração, o bagaço e a palha da cana. O LNBR é um dos laboratórios do CNPEM, que compõem o Conselho Consultivo do HIDS. “A gente não tem terra, o que temos são neurônios, vários quilômetros de neurônios para criar e gerar novas ideias. Eu diria que, em pouco tempo, talvez uns 10 anos, nós podemos ser referência mundial em produção de tecnologia de descarbonização da atmosfera porque essa é uma área em que nós realmente somos competitivos”, finalizou.
Por Patricia Mariuzzo