Uma cidade saudável é um espaço em que as pessoas tomam decisões em prol do bem coletivo para garantir acesso a elementos materiais e não materiais, em um exercício constante de aplicar políticas públicas, interagir com as pesquisas das universidades e com os desejos das pessoas que vivem nas cidades. Quais os desafios e oportunidades de implementar o conceito de cidade saudável no HIDS? Esta foi uma das perguntas que motivaram os participantes da oficina sobre cidade saudável organizada pelo CEUCI (Centro de Estudos Sobre Urbanização para o Conhecimento e a Inovação). Coordenada pela pesquisadora Ana Maria Sperandio, o objetivo geral do encontro foi identificar ações, estratégias e diretrizes de cidades saudáveis que possam ser implantadas e implementadas no processo de desenvolvimento dos distritos de inovação.
O encontro aconteceu em formato híbrido em 11 de outubro. Além de pesquisadores da Unicamp, a oficina contou com a participação de atores de fora da Universidade, incluindo a Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis e das prefeituras de Capão Bonito, Jacareí, Conchal e Valinhos. A realização de oficinas com grupos focais é uma das metodologias utilizadas pelo CEUCI para promover a discussão de conceitos com os diferentes atores vinculados ao HIDS, aos territórios urbanos do conhecimento e ao desenvolvimento urbano sustentável.
Uma das intersecções possíveis entre o conceito de cidades saudáveis e o HIDS é que uma das premissas do Hub é ser um laboratório vivo de soluções para as cidades, co-criando inovações com a participação de atores diversos, universidades, empresas, comunidade. A cidade considerada saudável prevê essas interações de forma contínua.
Um exemplo de aplicação dos conceitos de cidade saudável é o Parc de L’Alba, na Espanha. O Parque se enquadra na quarta geração de parques tecnológicos e conta com um Plano Diretor que busca agregar ideais de urbanização voltada à saúde e à qualidade de vida, além da preservação ambiental e da criação de corredores ecológicos. Sua elaboração e implantação é de responsabilidade de um consórcio formado pelo Incasòl (Instituto Catalão do Solo) e pelo Conselho de Cerdanyola Del Vallès.
A pesquisadora Marta Rofin Sèrra, arquiteta que participou do consórcio que estabeleceu o Parc de L’Alba, explicou que o plano diretor foi elaborado a partir da ideia de que nosso entorno condiciona nosso bem-estar, ela ressaltou que a importância do planejamento urbano. 75% da nossa saúde depende do espaço e do entorno urbano no qual vivemos, ele pode viabilizar ou não, um estilo de vida mais ativo, quando, por exemplo, há alternativas de mobilidade ativa, caminhabilidade, espaços verdes. “O planejamento urbano pode ‘criar saúde’”, afirmou a arquiteta.
Nesse sentido são muitas as contribuições que a aplicação do conceito de cidade saudável poderia trazer para um distrito de inovação como o HIDS. Melhorar a caminhabilidade na cidade, criar hortas comunitárias a partir de projetos de educação ambiental, estabelecer por meio do planejamento urbano um ambiente mais acessível para todos, limitar o uso de carros e incentivar a mobilidade de bicicleta com segurança.
O HIDS também poderia, por meio do desenho dos espaços construídos, proporcionar o encontro das pessoas e o estreitamento das relações das comunidades do entorno seja pela criação de equipamentos de cultura, educação e esporte, seja pela aproximação com coletivos já existentes e organização de ações comunitárias locais.
Desafios – Ao longo da oficina foram identificados vários desafios para criar um território do conhecimento que seja também um território saudável. No caso do HIDS, seria preciso superar questões de segurança e estabelecer um planejamento que estimulasse um tipo de mobilidade mais sustentável e menos dependente do transporte individual.
Quando se trata de planejamento urbano, um desafio certamente é superar as visões de curto prazo, incapazes de estabelecer políticas públicas de longo prazo, que possam ser continuadas independentemente do gestor ou do prefeito. Neste ponto emerge a importância da comunicação e do engajamento para legitimar essas políticas. Os participantes da oficina também apontaram a ausência de uma “educação para participação social” que dificulta a implementação dos princípios de uma cidade saudável.
Entre as conclusões das discussões da oficina houve o entendimento de que para alcançar os objetivos de uma cidade saudável, é necessário adotar uma abordagem de longo prazo, mas também implementar ações concretas de curto e médio prazo. Em suma, no curto prazo, destacou-se o planejamento das ações de forma intersetorial, formação e capacitação comunitária, com transparência e disponibilização de dados. No médio prazo, o tema das cidades saudáveis deveria ser incorporado efetivamente nas agendas governamentais, acompanhado da geração de dados para legitimar, consolidar e verificar o impacto das ações. No longo prazo, viria uma fase de monitoramento e avaliação contínuos, apoiada por um de conjunto de indicadores.
Leia aqui o relatório completo desta oficina.
Por Patricia Mariuzzo