Identificar desafios e oportunidades para viabilizar a mobilidade urbana sustentável em territórios do conhecimento, esse foi o objetivo da Oficina sobre mobilidade urbana organizada pelo CEUCI no dia 24 de agosto, em formato online. As discussões foram feitas a partir do contexto do projeto do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS).
Com sede na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (FECFAU), o CEUCI tem como missão contribuir para a implantação de áreas urbanas do conhecimento e inovação, em particular aquelas situadas em zonas de franjas ou de expansão urbana, tendo como diretrizes os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O HIDS é um dos estudos de caso do centro de estudos e a realização de oficinas com grupos focais é uma das metodologias utilizadas para promover a discussão de conceitos com os diferentes atores vinculados ao HIDS, aos territórios urbanos do conhecimento e ao desenvolvimento urbano sustentável.
Coordenada pelas pesquisadoras do Ceuci, Silvia Stuchi e Marcela Noronha, na oficina de mobilidade as discussões foram orientadas para entender, por exemplo, como atender as demandas por transportes públicos e por mobilidade ativa geradas pelo projeto urbano do HIDS e em outros distritos de inovação. A comissão organizadora contou ainda com Felippe Canteras, Vivian Bardini, Vitor Eduardo Molina Junior e Willian Emiliano, professores da Faculdade de Tecnologia (FT), Unicamp e com a arquiteta Thalita Dalbelo, da Coordenadoria de Divisão de Sustentabilidade (CSUS).
Uma mobilidade mais sustentável
O “Dia Mundial sem Carro”, que acontece em 22 de setembro em várias cidades do mundo, foi criado para estimular uma reflexão sobre o uso excessivo do automóvel, propondo que as pessoas experimentem formas alternativas de mobilidade para se locomover pela cidade. Um território com uso reduzido de carros e que viabilize a mobilidade ativa foi uma das oportunidades identificadas na Oficina do Ceuci. Segundo Silvia Stuchi, no HIDS há a oportunidade (e o desafio) de conciliar a política, a tecnologia, às necessidades locais e regionais da cidade de Campinas. “Como um laboratório, o Hub pode ser um espaço não só para desenvolvimento de inovações em empresas, mas, também, inovações em termos de urbanização e enfrentamento de alguns paradigmas sobre o uso do espaço e sobre mobilidade”, apontou a pesquisadora em relatório com as principais conclusões da Oficina.
A Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (2007) define como transporte não motorizado/ativo “qualquer forma de transporte humano, como caminhar, pedalar, cadeira de rodas, com o auxílio de muletas, enfim, todos os deslocamentos feitos de forma autônoma pelos cidadãos, mesmo com o uso de dispositivos auxiliares”. Entre as metas que compõem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, estão justamente a expansão dos transportes públicos e a incorporação do transporte não motorizado para “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” (ODS 11).
O planejamento que está sendo pensado para o HIDS prevê estabelecer nesse território um novo paradigma de urbanismo, mais sustentável, com calçadas mais largas, fachadas ativas e arborização que favoreçam a adoção da mobilidade ativa. “A mobilidade ativa desempenha um papel importante no contexto urbano, pois promove a inclusão social e o desenvolvimento urbano equitativo, ou seja, é um integrante importante da mobilidade urbana sustentável”, explica Stuchi.
Cidade de 20 minutos e transporte compartilhado
São vários os desafios para implementação de um sistema de mobilidade realmente sustentável. As partir das discussões realizadas na Oficina do Ceuci, foram identificados alguns deles. O planejamento urbano que favorece a compacidade e proximidade entre moradia, trabalho, escolas e serviços é fundamental para promover a mobilidade ativa, com a criação de núcleos multifuncionais para atender demandas de deslocamento em 20 minutos. “Dadas as características topográficas e climáticas de Barão Geraldo, a introdução de bicicletas elétricas compartilhadas pode ser uma solução para tornar o transporte ativo mais confortável, como forma de mobilidade ativa de baixo esforço, apropriada para áreas com declividade média, como o HIDS, e climas quentes, como o de Campinas, além de permitir a inclusão de pessoas com perfis físicos diversos”, sugeriram os participantes da Oficina, que contou com representantes dos setores público, privado e sociedade civil.
Ainda segundo o relatório, alocar recursos financeiros para mobilidade ativa e acessibilidade muitas vezes é subestimado em relação aos investimentos em infraestrutura para veículos motorizados, isso deve ser discutido e incorporado nas finanças governamentais, nas várias esferas de governança e políticas públicas abarcadas pelo HIDS.
Por outro lado, não basta ter uma infraestrutura adequada, é preciso estabelecer arranjos organizacionais e relacionais com a participação de diversos atores, reduzindo a distância entre o saber técnico-científico (universidade) e a tomadas de decisão (poder público) em todo o ciclo de planejamento, execução e monitoramento.
Os participantes da Oficina também apontaram a necessidade de espaço específico institucionalizado – como a criação de fóruns permanentes com participação popular – envolvendo os diferentes atores interessados, com espaço de escuta de demandas e feedbacks. A participação social foi regulamentada na Política Nacional de Mobilidade Urbana, mas ainda é um ponto de atenção para as prefeituras, carecendo de melhorias nos canais de comunicação e diálogo com a sociedade. No caso do HIDS, um dos temas desses encontros seria a conscientização da população sobre a relação da densidade urbana necessária para propiciar uma melhor mobilidade de transporte público e ativo.
Laboratório vivo
Outro desafio, nesse sentido, são ações de promoção para o uso dos modos de transporte mais ativos. “Envolver a comunidade no planejamento da mobilidade ativa e entender o tipo de transporte de acordo com os usuários são fundamentais”, segundo o relatório desta Oficina. “No HIDS, abre-se uma janela de oportunidade para a criação de uma cultura e comportamentos diferenciados, na lógica de entendimento do campus universitário como espaço que privilegia o deslocamento das pessoas – e não dos veículos motorizados – com acessibilidade, conectividade, segurança pública e viária. Como um laboratório vivo, o HIDS possui grande potencial de replicabilidade, inspirando mudanças positivas no entorno da Fazenda Argentina, rumo ao desenvolvimento sustentável”.
Para ler o relatório completo, clique aqui.
Por Patricia Mariuzzo