O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, participou nesta terça-feira (12) de uma reunião conjunta da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação e da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Durante o encontro, ele apresentou aos deputados presentes resultados recentes da sua gestão à frente da Universidade nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, além do impacto dos serviços prestados pela Unicamp na região de Campinas, como o das unidades de saúde, e as perspectivas de investimento para os próximos anos. A reunião foi presidida pelo deputado Mauro Bragato (PSDB/Cidadania) e contou com a presença de parlamentares das duas comissões e de representantes da atual gestão universitária.
“Hoje a Unicamp tem duas marcas, que são a procura por um relacionamento intenso com a comunidade e o esforço para que a produção de inovação, tecnologia e desenvolvimento social esteja em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] das Nações Unidas”, sintetizou Meirelles, que também apresentou dados de 2023 referentes ao total de estudantes de graduação e pós-graduação. Atualmente, a Universidade conta com mais de 21 mil alunos em 65 cursos de graduação e mais de 16 mil pós-graduandos em 168 programas de especialização, mestrado e doutorado, 87% deles com conceito de 5 a 7 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O reitor destacou também as diversas modalidades de ingresso oferecidas e as políticas de inclusão e permanência, que vão desde medidas como as cotas étnico-raciais e o recente Provão Paulista até as várias modalidades de bolsas e auxílios oferecidos durante os cursos. Entre 2013 e 2023, o orçamento aplicado em programas de permanência saltou de R$ 42,6 milhões para R$ 112 milhões. “Há na Unicamp diversas alternativas de ingresso garantindo que, aproximadamente, 50% dos nossos ingressantes sejam oriundos das escolas públicas e que a proporção de estudantes pretos e pardos seja semelhante à da população brasileira.”
Meirelles destacou também a importância das parcerias e dos convênios estabelecidos com diversas empresas e instituições a fim de permitir a realização de pesquisas e a oferta de serviços para atender demandas diversas da população. Dos R$ 4,2 bilhões do orçamento total da Unicamp em 2023, R$ 882 milhões são fruto de recursos extraorçamentários. Entre as parcerias firmadas, o reitor destacou aquela referente à aquisição de um radar meteorológico, que será instalado no campus de Barão Geraldo para a detecção de eventos extremos e que contou com o apoio da Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp), e uma parceria firmada com o Ministério Público do Trabalho para criar formas de garantir melhores condições de trabalho para entregadores de aplicativos.
“Eu acredito que uma universidade pública pode gerar boa tecnologia e pode ajudar a minimizar os impactos que essas mesmas tecnologias podem gerar para as pessoas. Queremos compatibilizar direitos com o desenvolvimento tecnológico. A tecnologia deve servir ao ser humano e, por isso, precisamos ter uma visão humanista delas, que assegure os direitos humanos”, defendeu Meirelles. O reitor apresentou ainda os compromissos da Universidade com a sustentabilidade, por meio de ações como a instalação de usinas fotovoltaicas nos campi, visando à transição energética, e o projeto de instalação de passagens de fauna na área do HUB Internacional de Desenvolvimento Sustentável (HIDS). “Nós acreditamos ser possível aliar o desenvolvimento tecnológico com a preservação do meio ambiente.”
Autonomia traz benefícios
Ao longo de sua apresentação, Meirelles atribuiu parte dos bons resultados obtidos pela Unicamp à autonomia administrativa e financeira das universidades públicas paulistas, uma política implementada no Estado em 1989. Os dados da Unicamp mostram que, mesmo com a manutenção no número de docentes e a redução no quadro de funcionários, a Universidade dobrou o número de estudantes formados e reduziu a evasão.
Segundo o reitor, isso também se reflete na relação das universidades com o setor produtivo do Estado. “São Paulo é o primeiro Estado do país onde o setor privado investe em ciência e tecnologia o equivalente ao que investe o setor público. Isso é possível porque as universidades paulistas e a Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] formam pessoas que impactam no setor privado”, afirmou. Nessa direção, Meirelles reafirmou o compromisso da Unicamp com garantir o direito à educação e à ciência e se posicionou contra propostas de cobrança de mensalidades nas universidades públicas. “Sou contra a cobrança de mensalidades. A Universidade passa hoje por uma imensa transformação social e garanti-la é também garantir o ensino público e gratuito”, advertiu.
Os deputados presentes na reunião parabenizaram o reitor e sua gestão pelos resultados apresentados e garantiram o apoio parlamentar aos projetos da Universidade. Marina Helou (PSOL/Rede) anunciou uma iniciativa de abrir um edital para direcionar parte de suas emendas parlamentares ao apoio a pesquisas que contribuam com a formulação de políticas públicas. “Temos um grande caminho a avançar para fazer com que nossas universidades estejam ainda mais a serviço da sociedade”, comentou a parlamentar.
Helou e Beth Sahão (PT/PCdoB/PV) questionaram Meirelles sobre como as universidades têm se articulado frente à proposta de reforma tributária que tramita no Congresso Federal e que, entre outros pontos, propõe a extinção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), do qual uma cota-parte é destinada às três universidades estaduais públicas de São Paulo. O reitor explicou que a proposta delas, já encaminhada ao governador Tarcísio de Freitas, é de que seja mantida a mesma ordem de grandeza do que é direcionado hoje às universidades, mas com base em toda a arrecadação estadual, aos moldes do que ocorre hoje com a Fapesp, que recebe 1% dessa arrecadação. Segundo Meirelles, a proposta foi bem recebida pelo governador. “Temos confiança de que isso será mantido. E contar com o apoio de vocês, parlamentares, é algo muito importante.” De acordo com o reitor, há ainda o objetivo de incluir o mecanismo de financiamento das universidades na Constituição do Estado.
Meirelles também respondeu a questionamentos dos deputados Tomé Abduch (Republicanos) e Leonardo Siqueira (Novo) a respeito de eventos recentes ocorridos na Unicamp, quando grupos organizados impediram que certas atividades fossem realizadas. Os parlamentares questionaram como a gestão da Unicamp trata esses casos e de que forma incentiva e defende a liberdade e a diversidade de ideias. O reitor destacou o caráter plural do espaço universitário e ressaltou defender o convívio harmonioso entre diferentes visões de mundo, condenando todas as formas de violência e de preconceito. Ele também chamou atenção para a recente publicação da Carta de Princípios da Unicamp, que expressa esses e outros valores. “Procuramos divulgar a ideia de que o diálogo é algo fundamental e de que a Universidade é um local do saber, no qual o debate de ideias é importante.”
Por Felipe Matheus, da SEC Unicamp, fotos Antonio Scarpinetti | Rodrigo Costa (Alesp)