O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, defendeu nesta terça-feira (19), em São Paulo, a importância de marcos legais que garantam a segurança na relação entre universidade e empresa no desenvolvimento de pesquisas. Segundo ele, esta talvez seja uma das maiores restrições existentes hoje na relação entre os setores.
“O desafio é criar uma relação que não gere tanta desconfiança, porque, basicamente, o padrão atual no nosso país é o de que qualquer relação da universidade pública com empresa é vista com desconfiança”, disse o reitor em evento preparatório para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, prevista para o mês de julho, em Brasília, e que foi realizado pela manhã, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“E isso é um problema grave, porque a universidade pública não consegue produzir inovação sem relação com o mundo corporativo, com o mundo das pequenas, médias e grandes empresas”, afirmou ele, durante a participação na mesa, cujo tema foi “A perspectiva das Universidades/institutos e a colaboração em pesquisa com as empresas”. A coordenação da mesa foi do empresário Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Meirelles lembrou que a Unicamp tem longa tradição de colaboração com o setor privado, citando exemplos de projetos na área de petróleo, transição energética, biomassa e fármacos, além de investigações na área da saúde, da agricultura digital ou da inteligência artificial, que são feitos em parceria com empresas brasileiras ou estrangeiras.
O reitor apresentou o plano de implantação do HIDS (Hub Internacional de Desenvolvimento Sustentável) — uma área de 11,3 milhões de metros quadrados ao lado do campus de Barão Geraldo, em Campinas —, que será transformado em um distrito inteligente. No Hub, moradias irão conviver com empresas de tecnologia em espaços com soluções urbanísticas sustentáveis. O objetivo do HIDS, disse ele, é transformar o Polo de Alta Tecnologia de Campinas e Região, num centro de desenvolvimento sustentável em nível global.
O reitor falou ainda da Inova — a Agência de Inovação da Unicamp —, criada em 2003 com o objetivo de estabelecer uma rede de relacionamentos da Universidade com a sociedade para incrementar atividades de pesquisa e ensino, e que hoje conta com 1.387 empresas filhas cadastradas.
A Inova contabiliza 1.298 patentes vigentes e ocupa o 3º lugar entre as universidades brasileiras. “Hoje, o Instituto de Biologia já é um grande produtor de patentes; a Medicina também já produz, e a área de humanas está começando a entrar nisso. Ou seja, a ideia do empreendedorismo está se espraiando pela Universidade”, ressaltou o reitor.
Redes de pesquisa
Vice-presidente sênior de Redes de Pesquisa da Elsevier, editora especializada em conteúdo científico, o físico Carlos Henrique de Brito Cruz teve participação online na sessão e falou sobre “Colaboração Universidade/Empresa: o papel de cada um.”
Segundo ele, as áreas têm papéis complementares. A universidade, diz o professor, deve se encarregar da formação e da pesquisa. As empresas devem cuidar do desenvolvimento econômico, mas também de pesquisa, e o governo deve tratar da articulação entre os setores; incentivo, financiamento e pesquisa.
Mas Cruz fez uma ressalva. “As empresas devem ser locais relevantes de pesquisa, empregando seus próprios pesquisadores”, afirma Brito Cruz. “Não devem ser apenas receptoras de conhecimento”, acrescenta.
O diretor da Siemens, André Clark, coordenador da mesa que discutiu a expectativa das empresas na interação com as universidades, chamou a atenção para o desafio da formação. “Integro uma empresa global, presente em mais de 90 países, e nosso principal gargalo é a formação de pessoas”, revelou. “Além disso, (a dificuldade) é fazer a adequação e a aplicação de tecnologias para a realidade de cada país, já que cada lugar exige uma solução específica”, explicou.
O executivo defendeu a integração entre empresa e academia. “O Brasil é solução para o planeta. O planeta precisa do Brasil e, por isso, (o Brasil) precisará de muita ciência e de muito aluno de mestrado e doutorado trabalhando dentro da fábrica”, prevê.
O diretor da Embraer, Cleiton Diniz Pereira da Silva e Silva, defendeu um maior intercâmbio entre empresa e universidade. Para ele, profissionais das empresas devem fazer cursos de pós-graduação, e pesquisadores devem passar períodos nas empresas. “É preciso aumentar a sinergia entre as linhas de pesquisa da indústria e da academia”, ensina. “A indústria também é um local de pesquisa”, adverte.
Outras mesas discutiram questões como recursos humanos, pesquisa colaborativa, startups, spin-offs e ambientes de inovação. A comissão organizadora do seminário foi formada por Carlos Américo Pacheco (Fapesp), Marco Antonio Zago (Fapesp) e Pedro Wongtschowski (Fiesp).
Veja qual foi a agenda de discussões:
1. O papel da pesquisa nas Universidades e nas Empresas: características específicas e possibilidades de colaboração.
2. A importância de uma agenda de P&D robusta nas empresas brasileiras: gargalos e possibilidades.
3. Formas de colaboração entre Universidades e Empresas: formação de recursos humanos, informação científica e tecnológica, pesquisa colaborativa, laboratórios conjuntos e alianças estratégicas — a experiência internacional.
4. A realidade da colaboração Universidade-Empresa no Brasil: indicadores, casos de sucessos e modelos existentes: Centros de Pesquisa em Engenharia e PITE da Fapesp, Embrapii, Institutos Senai de Inovação, Startups e Spin-offs.
5. Instrumentos e mecanismos de incentivo à colaboração entre Universidades de Empresas; instrumentos financeiros, incentivos, aspectos institucionais e regulatórios.
Por Tote Nunes da Secretaria de Comunicação da Unicamp. Foto: Daniel Antonio (Fapesp)